22.10.13

Te cuida.

                           Desde crianças somos obrigados a fazer coisas chatas, que tem a ver com o desejo dos outros. Nossos compromissos crescem junto conosco. Nossa conta corrente do prazer está negativa.
                             O tempo que nos sobra vai para o banco de horas da empresa. Devemos um telefonema, uma atenção para o filho, uma resposta para o cliente, um feedback para o colega. Devemos a colocação daquele quadro na parede, o termino do livro, horas de sono. Pagamos com mau humor o tempo que não temos para dar risada, ir ao cinema, respirar e cuidar mais de nós mesmos. Recebemos como troco a intolerância de alguns que também estão devendo. Assim, criamos um mercado de trocas escassas com negociações que podem incluir a alma pelo salário razoável. No mundo das obrigações e tarefas as listas aumentam e novas pendências e demandas não param de surgir. 
                            Cuidar de si é como se assoprar no verão, trazendo prazer para o corpo. É nutrir-se com porções de respeito ao próprio ritmo, aos sinais de cansaço e de tolerância. É parar antes da dor e da desistência do outro pela nossa falta de atenção.

                              Sorrir para si mesmo no espelho ou massagear os próprios pés pode ser um começo. Depois disso é estar 100% presente na própria vida, ouvindo com muita atenção e carinho os outros. Falar olhando nos olhos. Bem, aí já é pós-doutorado em te cuida.


16.10.13

(Nem tão) simples assim

                        Levantar da cama, vagarosamente. Um pé no chão, depois o outro. Precisa concentração. Três vezes por semana como um teste sem esforço. Abrir a janela e respirar, profundamente.  Com certa ousadia, deixando de lado a crítica do “não tenho tempo para isso”, “que bobagem”, “isso é autoajuda barata”, sussurrar: “Que dia bom,  obrigada”! Agradecer para quem? Para o ar, para o calor, para a vida! O que importa é ser grato e estarmos nos ligando na abundância e não na escassez. Dali para frente, a cada segundo, seguimos fazendo escolhas, decidindo a roupa, o caminho, o estado de espírito.
                        Simples assim? Nem tanto. Um diálogo ininterrupto preenche nosso cérebro. A saudade, a mágoa, a culpa, o arrependimento conversam sobre o passado: “Por que eu falei aquilo?”.
                        Os sonhos e a incerteza falam do futuro: “Como vou fazer tudo o que tenho hoje”?  Assim podemos passar pelo dia: frustrados com o que já passou e aflitos com o que ainda não aconteceu.
                        Perceber e apreciar o presente é um caminho simples para a realização do que é preciso. O gosto do café, a cor do cabelo da colega, o jeito de caminhar de algum estranho, a rua movimentada, as árvores em flor. O céu.  Olhar para cima. Prestar atenção naquilo que estão dizendo, ouvir de verdade.

Presença no presente. Isso pode nos trazer tranquilidade e expansão.