Desde crianças somos obrigados a fazer coisas chatas, que
tem a ver com o desejo dos outros. Nossos compromissos crescem junto conosco. Nossa
conta corrente do prazer está negativa.
O tempo que nos sobra vai para o banco de horas da empresa.
Devemos um telefonema, uma atenção para o filho, uma resposta para o cliente,
um feedback para o colega. Devemos a colocação daquele quadro na parede, o
termino do livro, horas de sono. Pagamos com mau humor o tempo que não temos
para dar risada, ir ao cinema, respirar e cuidar mais de nós mesmos. Recebemos
como troco a intolerância de alguns que também estão devendo. Assim, criamos um
mercado de trocas escassas com negociações que podem incluir a alma pelo salário
razoável. No mundo das obrigações e tarefas as listas aumentam e novas
pendências e demandas não param de surgir.
Cuidar de si é como se assoprar no verão, trazendo prazer
para o corpo. É nutrir-se com porções de respeito ao próprio ritmo, aos sinais
de cansaço e de tolerância. É parar antes da dor e da desistência do outro pela
nossa falta de atenção.
Sorrir para si mesmo no espelho ou massagear os próprios pés
pode ser um começo. Depois disso é estar 100% presente na própria vida, ouvindo
com muita atenção e carinho os outros. Falar olhando nos olhos. Bem, aí já é
pós-doutorado em te cuida.