11.12.12

Desperdício!


                   
          O último bife do prato. Eu tinha 7 anos. Minha irmã também queria. Sem sorteio, levei a melhor. Na metade, eu já não conseguia comer mais. “Olho grande”, disse meu pai, me obrigando a terminar. “Desperdício” complementou.  Eu não compreendi a palavra, escutada pela primeira vez. Percebi que era importante, pelo seu tom de voz.
          Na minha infância “raspar o prato” era obrigatório e elogiável. Até hoje faço isso.
       O Brasil é o quarto produtor de alimentos do mundo e desperdiça 39 mil toneladas por dia. Comida jogada fora. Há 925 milhões de seres humanos passando fome nesse momento.
As crianças que têm comida no prato poderão ter essa noção. Basta que demos o exemplo.



3.10.12

Pensamento do dia

                                    "A tarefa não é tanto a de ver o que ninguém ainda viu, mas a de pensar o que ninguém ainda pensou sobre o que todos vêem."

2.10.12

Pensamento do dia

                                    "Alegrias são dádivas do destino que comprovam seu valor no presente, pesares, ao contrário, são fontes de conhecimento cujo significado se revela no futuro."

                                    Rudolf Steiner

                                    

29.8.12

Valores

                                    A professora da 6ª série devolveu as provas dizendo: "Quem corrigir o que errou, trazendo assinado pelos pais, ganha um ponto na nota. O menino, contando o episódio na saída da escola:
"Mãe, tive que fazer a tua assinatura. Devolvi a prova corrigida, mas para ganhar um ponto tinha que ter a tua assinatura. A mãe fez cara de quem não gostou. O menino argumentou:
"Eu pensei que tu ficarias muito braba se eu não ganhasse um ponto"!
Escutei essa conversa dia desses e fiquei matutando: Fazer uma assinatura, aqui nesse contexto, é falsificar. O pior é que ganhar um ponto para alegrar a mãe é mais importante do que saber disso! 

24.7.12

IRRITADOS

                   "Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo". A composição é do Walter Franco, cantada pela Leila Pinheiro. O mantra serve para enfrentar pessoas irritadas e sem limite. Parece-me que a adolescência está beirando os 30 anos. A incapacidade para suportar uma frustração e espernear feito criança mimada toma conta de muitas lideranças jovens. A qualidade e a profundidade do trabalho, que deve ser feito para ontem, deixa a desejar.Um certo ar de arrogância acompanha o andar rápido de alguns nomeados como  "geração y". Eles desejam que tudo aconteça na hora exata, sempre na sua hora exata. Alguns estão com a Síndrome do Intestino Irritável, doença adquirida antes dos 30 anos, mais por mulheres.O intestino tem um sistema nervoso autônomo com milhões de neurônios circulando por ali. É um segundo cérebro. Uma bomba relógio. 
                       Bem, toda vez que você cruzar com esses irritados ambulantes ou tiver o azar de estar na sua equipe, clique aqui.

23.7.12

Diálogo? Nem pensar!

                              A criança parecia hipnotizada.O trânsito lento, malabaristas na sinaleira, um entardecer de chorar de tão lindo e ela grudada na TV, dentro do carro, no banco traseiro. Isso é muito avançado, tecnologicamente. Cena semelhante eu presenciei no restaurante. O carrinho com um porta-computador e o bebê grudado na tela enquanto os pais comiam, em silêncio. Bem, pensei que a TV fosse um modo de deixar o casal conversar. Que nada!
                          Lembro de sair para almoçar com meus três filhos pequenos. Levantar, embalar, comida fria, ninar, comida quente, muita conversa, palminhas, alguns livrinhos, brinquedos pequenos, tampinhas, garrafa plástica, chaveiro do carro, cadeirinha... tudo para distrair. As crianças sempre ficarão impacientes num almoço demorado. Agora, hipnotizá-las é o início de uma vida alienante. Não sei se mais tarde é esse pessoal que vai preferir ficar dentro do quarto, sob os protestos dos pais. Alienação é típico da nossa sociedade. Ficar triste é proibido, diálogo, nem pensar. 
                           Não sou favorável a TV no carro, no carrinho, no banheiro, no quarto, na cozinha. Acho que nesses lugares a gente deveria exercitar outras coisas.  Um bate papo com os filhos é artigo de luxo em muitas casas que praticam o diálogo na hora do comercial. Depois, volta o hipnotismo. Psiuu, vai começar a novela!

16.7.12

É XIMENES, COM X

                                   Os estereótipos que Woody Allan constrói no filme Para Roma com Amor foram escolhidos a dedo. Nessa semana eu mesma presenciei no aeroporto em São Paulo a tietagem de duas mulheres adultas insistindo com uma atriz para tirar fotos e dar um autógrafo. Como não estou por dentro do repertório global, fiquei boiando. A minha curiosidade, no entanto, me passou uma rasteira e logo fui perguntar para as fãs quem era a dita cuja: Mariana Ximenes, com "X". Por quanto tempo ela dará autógrafos só Deus sabe. O personagem que, da noite para o dia, fica famoso no filme de Woody Allan, interpretado por Roberto Benigni ( A Vida é Bela) é a representação máxima da mediocridade da imprensa que corre atrás dos famosos. A cada suspiro uma reportagem de duas páginas.
                                   Ficar famoso, aliás, é a esperança que muitos pais frustrados colocam em seus filhos. Ter um membro da família que seja reconhecido na rua é o sonho de consumo de muita gente. Para mim, que gritava e sapateava no cinema Guarani, em Porto Alegre, assistindo Help, dos Beatles, é na adolescência que a gente se apaixona pela fama dos outros. Depois dessa fase, a gente tem mais é que apoiar o anonimato e tirar do palco uma quantidade enorme de gente ( lideranças, colegas de trabalho, crianças adultas, pais infantis) que não têm nem mesmo condições de estar nos camarins.  

4.7.12

Férias com Respeito

                                          Juntei o agradável com o agradável e fui para Londres ver minha filha que está morando lá. Confesso que poucas vezes me sinto uma cidadã em Porto Alegre. Tenho a impressão que aqui só sabem que eu existo quando sou multada por falar no celular e dirigir, o que é justo, quando a minha operadora de celular quer me oferecer um plano melhor, toda a vez que alguém buzina para "avisar" que o sinal abriu ou por "ter a preferência" na hora de colocar uma mala dentro do táxi no aeroporto, quando o motorista está preso no seu assento. A prefeitura se lembra muito de mim para cobrar impostos. 
                                           Eu que sou de Porto Alegre fui recebida em Londres como uma pop star. 
Começa que as indicações servem mesmo para indicar. As ruas têm placa de sinalização e existem para a gente atravessar e todos param na faixa de segurança: motoristas, ciclistas e transeuntes formam um  triângulo amoroso perfeito.Os parques abrem às 7 horas e fecham às 21h. Ninguém tem o direito de dormir lá dentro, ninguém mesmo. As pessoas podem ver as flores florirem, os equipamentos estão abertos e lotados ( bares, restaurantes), os banheiros limpos e há responsáveis cuidando. Me senti privilegiada com tantos e bons tratos.Qualquer necessidade minha como uma cidadã que andou perambulando pelas ruas de Londres da manhã à noite foi atendida com dignidade. Na volta alguém comentou: "Não dá para comparar Londres com Porto Alegre". É verdade. Porto Alegre é demais! 


17.6.12

De perto ninguém é normal.

                            O filme de Roman Polanski, Deus da Carnificina, conta a história de dois garotos que brigam no parque e um deles sai com dois dentes quebrados em função de uma paulada que levou do outro. Os pais da vítima e do agressor resolvem conversar sobre o ocorrido, definindo o que deverá ser feito com os meninos. O filme tem 1h 10m de duração dentro da sala de estar do apartamento dos pais da vítima.
                            O diálogo entre os dois casais inicia com uma completa aula de boas maneiras e traquejo social. Os anfitriões oferecem bolo, café e acolhimento. Entretanto, depois de algum tempo, a conversa vai degringolando de forma a transformar polidez em agressividade, expondo a fragilidade humana. De perto ninguém é normal, disse Caetano Veloso. Ao nos aproximarmos vemos que o amor e o ódio, a candura e a grossura, o grito e o silêncio, a ironia e a compreensão, o desejo e a indiferença fazem parte da mesma pessoa. Esses sentimentos estão disponíveis, esperando para serem utilizados. Somos hipócritas quando não acreditamos nisso, tentando disfarçar.
                            A descarga de raiva que um casal vai despejando sobre o outro e entre si, nos leva a refletir sobre onde estava guardado tudo aquilo. Quando nos descontrolamos e viramos perseguidores uns dos outros assumimos a nossa animalidade. Vem à tona toda a força que temos para destruir aquele que, a nosso ver, nos ataca. Por trás desse turbilhão de palavras e gestos malditos estão conversas interrompidas, mágoas guardadas, relações superficiais, medo de aprofundar-se, permitir a tristeza e dialogar.
                            A hipocrisia está aqui. Temos o defeito de querer o melhor para nós e o outro que se dane. Disfarçamos isso. Ser mau e egoísta não é algo a ser exposto. Assim, quando o bicho pega, toda essa maldade vem prá fora e salve-se quem puder. Acabamos desejando que morra e vá para o inferno aquele que há poucos minutos dissemos amar para toda é vida. Destruímos em segundos o que levamos anos para conquistar. Acontece que é preciso mudar isso, com urgência. O filme nos leva a refletir sobre a hipocrisia, o que já pode ser o ponto de partida para uma mudança. Chega de disfarce e de falta de maturidade e consciência.


15.6.12

Controle.

                         A tecnologia aproxima. Podemos  ver à distância, sem estarmos presentes. Os filhos na escola com câmeras. Os pais, no trabalho, em qualquer lugar do mundo, acompanham o que acontece. Há lista de espera para matrículas nesse tipo de instituição. Já é um pré-requisito, um diferencial de marketing, a escola com câmeras. Não são escondidas, mas têm o objetivo de vigiar e, quem sabe, punir. Michel Foucoult que pensou sobre isso.
                            Nós precisamos vigiar. O BBB é um bom exemplo disso. Ver o que acontece com os outros, fora do nosso campo de visão é uma das mais importantes conquistas tecnológicas para controlar a vida de quem quer que seja. Os detetives devem ter perdido um tanto do mercado com isso. Seu trabalho, quase artesanal, ficar de tocaia por horas a fio, pode ser substituído por câmeras escondidas. Elas estão em todas as partes. Nas entradas de prédios, estádios, shoppings, estacionamentos, estradas, elevadores, empresas e até no estoque de algumas lojas. Algumas ações trabalhistas já foram ganhas por denúncia de presença de câmeras nos vestiários de funcionários. Voyerismo de patrões desajustados? Controle do roubo? Não importa, elas controlam a intimidade.
                      O controle está disfarçado em necessidade de segurança. Olhar o que acontece é seguro e causa constrangimento para quem quiser fazer algo proibido ou fora das regras. Vigiar e punir.
Sou contra câmeras em escolas e também tenho as minhas dúvidas sobre a sua eficácia em  lugares públicos.
                          Agora, pensar nisso de outra forma é imaginar o que as câmeras enxergam, ali paradas todo o tempo, que a gente não vê, mas poderia ter visto se não vivesse tão alienado da realidade.
                         Esse vídeo da Coca Cola aproveita isso de maneira muito interessante e criativa.
O que pode estar acontecendo no mundo enquanto a gente vive?
                     


14.6.12

É dura a vida de cliente!

                              Eu fui comprar um pijama de flanela para presentear minha filha, justo no dia dos namorados. A loja estava lotada. Enquanto aguardava o atendimento fui “dando uma olhadinha” em algumas peças. De repente, uma ágil vendedora saltou sorridente para o soutien na minha frente:
“Esse é lindo”, olhando para os meus seios, com conhecimento de causa, prosseguiu: “Para quem tem pouco seio eu tenho esse modelo com bolha”.
“Bolha”?
“Sim, vou buscar. Meu nome é Pati.”
                              Eu, que estava querendo apenas comprar uns pijaminhas básicos, acabei aguardando a Pati  e um soutien com bolha .
Relaxei. Como seria uma bolha no peito? Lembrei de quando amamentava meus filhos. Deixa prá lá, não era nada disso.
                              O soutien tem enchimentos que levantam o baixo astral. A Pati me disse que eu arrasaria com ele. Pensei com os meus botões: será que eu quero um peito bolha, levantado, grandão? De curiosa, fui provar. Meus seios foram para o pescoço, a blusa virou baby look e eu já nem sabia mais o meu nome. Aquela ali no provador não era eu, com certeza. A Pati ficou arrasada, eu acho. Nem me deu tchau. Sai da loja sem pijama, voltando ao normal.
                              Como é que se vive com tanta naturalidade esse “parece, mas não é”? Parece que tenho, mas não tenho. Parece que sou, mas não sou. Parece que sei, mas não sei. Que gosto, mas não gosto. Que compreendo, mas não. Parecia que a Pati era minha íntima, mas não era. O mundo do “parece” nos tira a naturalidade. Confunde o real. A Pati precisava sair da bolha e vender pijamas para mim. Eu até entendi. Era dia dos namorados, momento perfeito para vender um  soutien “parece que tenho um peitão”.
Bem, na próxima eu compro o que desejo. É dura a vida de cliente.

12.6.12

Ou eu ou você.


                             Para simplificar e compreender melhor o mundo dividimos a realidade, dissociando-a. Vivemos o “ou”, acreditando ser isso possível. Temos coragem ou medo, somos crianças ou velhos, pensamos com o cérebro ou com o coração, vivemos ou morremos, vemos o certo ou o errado, o feio ou o bonito, o simpático ou o antipático.
                                    Um olhar ampliado nos eleva a consciência e a compreensão do mundo. Tem vida na morte, a criança está no velho, a árvore está na semente, o feio está no bonito. A percepção do todo nos permite ver as partes de forma simétrica. Tudo tem a ver com tudo. Um gesto impacta numa atitude, que leva a uma ação, que mobiliza um processo, que constrói outro, que alimenta mais outro e que pode transformar a realidade. Nós somos “e”. Essa é a única forma de sobrevivermos como seres humanos. Precisamos fazer o exercício árduo de incluir tudo o que até agora acreditávamos não fazer parte porque nos era oposto ou diferente. Um mundo dividido é um mundo pobre. Uma pessoa, também.  
Reflita-se nesse vídeo que foi premiado no Vimeo Awards 2012. 


10.6.12

Como diria a Madre Terezinha...



                                    Fui convidada a me “retirar” do colégio Bom Conselho, de freiras, em Porto Alegre. Hoje, no jargão organizacional eu seria desligada ou disponibilizada para o mercado. Acontece que eu me senti injustiçada. Largar um “busca pé” dentro da sala dos professores, em pleno dia do meu aniversário de 14 anos, dia de São João, essa eu não tinha aprontado. A minha melhor amiga, Fatima Zacchia, hoje defensora pública, também não estava comigo nessa. Nós já tínhamos confirmado ter batido o sino antes do horário oficial, decorado uma lista de pecados idênticos para confundir o padre no dia de confissão e soltado uma bombinha básica no páteo para assustar as “crentes”.
                                  Eu peguei ódio da Madre Terezinha, com aquele véu ridículo e um dedinho indicador que mexia sem parar. Nosso diálogo foi curto:
“Para o ano que vem não teremos mais vaga para você aqui na escola”.
“Humm, que merda, mas tudo bem.”!
Ela pediu para eu repetir o palavrão e eu neguei que tivesse dito algum:
“O que eu falei mesmo, madre? Repetir o que”?
“Você disse Merda”.
                                 Bem, a partir daquela dia todo o colégio sabia que a madre Terezinha era uma desbocada.              
                      Eu  sai do Bom Conselho, a Fatima também, sem conselho algum para a nossa vida futura. Levei comigo o bordão:
“Como diria a Madre Terezinha, que merda”!
                                Repito essa expressão há mais de 40 anos. O engraçado é que esses dias me disseram que esse bordão vai voltar para mim. Alguém vai me dizer “como diria a Madre Terezinha, é f _ _ _ ( uma evolução do original) , sem saber que a expressão faz parte da minha história. Aguardo ansiosa o dia que isso acontecer!
                               Por enquanto a Madre Terezinha me ajuda a escolher o palavrão certo para a hora certa. Afinal, ela era f _ _ _!



8.6.12

Valeu!

                             “Aqui ninguém elogia”. O diretor tentava apontar a razão da generalizada desmotivação na  empresa. O que pode contribuir com essa falta de elogios pode ser a crença: “Não elogia que estraga” ou “não elogia que eles pedem aumento.” Muitos líderes foram criados ouvindo isso. Certa vez, um executivo me disse que nunca havia sido elogiado, desde criança, e que “não morreu por causa disso”. 
                             Estamos acostumados a ver o erro. Existem técnicas para resolução de problemas, reuniões deixam de acontecer se não há um problema para resolver, as pessoas são promovidas por conta da sua capacidade de resolvê-los. Acontece que, se a meta é sair de casa para “matar um leão a cada dia”, é evidente que os problemas surgirão, espontaneamente.
                             Outro comentário que escuto é que, de cada dez tarefas que são realizadas, se uma der errada, o chefe reclama dessa e ignora o resto que deu certo. Fazer corretamente é obrigação, não precisa elogiar, pois o salário já é pago para isso. Discurso do século passado? Não, de centenas de pessoas com dificuldade de olhar o ser humano de forma positiva.
                             Apreciar um trabalho bem feito, agradecer por ter ficado até mais tarde, corrigir com paciência um erro, oferecer ajuda para quem está iniciando em uma nova área, mostrar publicamente o trabalho de alguém e elogiar na frente dos outros são atitudes que geram confiança e fazem a diferença quando um líder precisa contar com o comprometimento da sua equipe para resolver um problema.
                             Cuidado, no entanto, para não exagerar nos superlativos. “Esse é o melhor funcionário que já passou por aqui” e, um mês depois, a pessoa ser demitida. Em tempos de meritocracia, aqueles que conseguem atingir as metas são reconhecidos e premiados. Não é disso que eu estou falando. Meu pensamento está para pequenos gestos e algumas palavras que podem reconhecer e estimular o trabalho, a persistência, a qualidade ou a coragem do outro.

Um bom dia, um “valeu” ou um “vai firme”. Nós estamos precisando de tão pouco.

7.6.12

Primeira Vez

                             Chegar a Ibiraquera, praia de Santa Catarina, um lugar que venho há mais de 10 anos, é sempre um novo prazer. A estrada esburacada, a farmácia Jorge que segue fechada no inverno, o mercado Guimarães com os poucos enlatados na prateleira, o Guima, seu proprietário, descansando na calçada, aproveitando o feriado, pois a vida em Ibiraquera é agitada! Incrível como tudo é tão repetitivo e se torna surpreendente para mim.


                          O filósofo Allan Kaplan em seu livro “Artistas do Invisível” explica que isso acontece quando temos um olhar novo para aquilo que é conhecido. Segundo ele, para que isso se torne possível é preciso presença, algo como gostar de estar.

                        Estamos acostumados a transformar o nosso cotidiano numa paisagem, muitas vezes uma natureza morta. Desviar, diariamente, de um mendigo na calçada, não ver mais o caminho de casa para o trabalho, tornar corriqueiras as relações, antecipando o que o outro vai dizer ou achar que uma flor de tão linda pode ser de plástico é desconectar-se do viver.

                      O que nos surpreende é o novo, mas o exercício de ver o desconhecido no conhecido nos levaria a uma vida mais intensa e consciente. Meu trabalho se torna melhor quando dedico a ele um novo olhar. Meu casamento é renovado a cada dia que eu vejo o meu parceiro como inesgotável. A mesmice é uma forma de acomodação, nos aliena e nos faz regredir. Fazer algo pela décima vez como se fosse a primeira é privilégio de quem pode ver o invisível. Transformar é conosco, únicos seres capazes de mudar a cada instante.
                  Desde o amanhecer até agora nada mudou por aqui. Meu dente não caiu, meu marido é o mesmo, continuo em Ibiraquera, mesma casa, mesmo dia. E o melhor de tudo é que tenho a mesma sensação de que estou vivendo esse feriado pela primeira vez!

5.6.12

Com apoio a gente vai longe


                            Na maratona de domingo, em Porto Alegre, nosso grupo de 40 atletas ( Clube de Corrida Vitta), que “corre para se divertir”,exalava uma única energia: a do desafio pessoal. Alguns estreando nos 5 km com frio na barriga outros, buscando os  42 km e, a maioria, querendo reduzir o seu tempo, competindo consigo mesmo.  Houve quem foi para APOIAR. Acontece que esse apoio significou acordar antes das 6 horas da manhã, pegar uma bicicleta e acompanhar os colegas maratonistas levando bananas, gel, palavras de motivação e presença constante ao longo do percurso. Não era apoio moral do tipo “vai que eu estou torcendo”, era presença.
                            Nosso grupo de corrida é bem assim: a gente gosta de vibrar pelo desafio pessoal do outro. Além disso, se acorda cedo para tirar uma foto com toda a equipe, mesmo tendo que correr apenas às 11 horas da manhã.
                            Fico pensando no apoio. No dicionário a palavra significa auxílio, proteção, esteio. É isso mesmo, proteção. Quando a gente se sente protegido, se vai longe e cresce. Nossos objetivos pessoais são mais facilmente atingidos quando temos proteção. Isso quer dizer, “vai correndo que eu estou por aqui, ao lado”. Assim é o papel das lideranças e dos pais. Apoiar uma equipe, um funcionário para que atinja a sua meta é cuidar, nutrir, oferecer o que ele precisa na hora certa. Assim é com os filhos também. É até possível acreditar que correr 42 km é coisa de maluco, que acordar às 5 da manhã, no frio, é para quem se odeia, mas somente quem respeita os desafios pessoais dos outros é que está disponível para apoiar essas “maluquices”.
                            Lá no VITTA, o nosso técnico Mauro Paranhos preserva uma coisa fundamental para se manter um a equipe dos 20 aos 60 anos: respeito pelas diferenças de objetivos e estímulo ao apoio. Lá quem apoia é tão vencedor quanto quem corre. Cada um com o seu papel e dentro de um ritmo que tem nos levado longe.

                                                   

4.6.12

Vontade de largar tudo!

                     Ontem conversei com uma amiga sobre preguiça. Aquele desânimo que é habitual nas segundas feiras e que pode ir se alastrando por toda a semana e pela vida. Ela me falou de uma “síndrome da mulher cansada”.
Quando essa doença ataca, a pessoa acaba deixando tudo para depois. Nesse rol de atividades que são adiadas pode estar desde uma dieta até trocar de emprego. É verdade, trabalho não significa não ter preguiça, a pessoa vai trabalhar “se arrastando”. O cansaço tende a aumentar porque é preciso disfarçar a fadiga e manter a mente ocupada para  executar as tarefas de rotina. Mais cansaço no final do dia.
                          A minha amiga, que trabalha bastante, vive com preguiça. Agora passou a questionar o que vale a pena na vida. Na nossa conversa ela até cogitou em largar tudo ( emprego,filhos, amigos, namorado), vender o apartamento e ir embora para a praia. Incrível como as pessoas acabam tendo esse desejo um dia na vida: largar tudo! Parece que se carrega a vida nas costas por anos a fio. Cada dia acrescentamos mais um pacote. É evidente que chega um momento de querer se desvencilhar de tanta tralha. Bem, como começar? Tornando o dia-a-dia mais leve ( parece ridículo, mas funciona):
1. Antes de levantar da cama diga: “Bom dia ( seu nome), vamos levantar?” Espreguiça como criança mesmo. 
2. O café da manhã é fundamental. Tomar sentada, colocar a mesa, pode ter deixado pronta na noite anterior. Cuidar para relaxar o rosto sempre, deixando descansada aquela marca de expressão com formato de preocupação.
3. Presença em cada momento é a palavra chave. Dirigir pensando na direção, olhando as ruas, “curtindo” o trânsito. Nadar contra a corrente para chegar na fonte, é isso que nos desenvolve e nos torna humanos sem preguiça.
4. Encarar o primeiro contato ou compromisso com alegria: BOM DIA!
5. Motivos para estar alegre? Ter acordado já é um deles. A vida é um presente diário. Hum, parece auto ajuda. Mas, se a gente não se ajudar quem vai fazer isso por nós?
Caso nada disso funcione, podemos pensar em outras possibilidades para romper com o ciclo:cansaço-preguiça-vontade de largar tudo. 


Uma boa dica é começar vendo esse vídeo da Jane Fonda.

23.4.12

A Destruição da Solidariedade

                    
 Afinal, com quem se pode contar? 

                     Em tempos de não se conhecer quem mora ao lado, de duvidar se o colega de trabalho é de confiança, as pessoas acabam não contando umas com as outras.Sobre o tema falou o psiquiatra francês, especialista em psicopatologias oriundas da sobrecarga de trabalho, Chirstophe Dejours, a convite do Tribunal Regional do Trabalho, em Porto Alegre.
                  Muitas pessoas adquirem depressão ou se suicidam por falta de ajuda, diálogo e reconhecimento no trabalho. Pessoas que não dizem "não", por medo de serem demitidas ou transferidas e acabam aceitando uma jornada maluca e exaustiva, além de assédio moral. Citando inúmeros exemplos em grandes empresas mundiais, dentre elas a Renault, onde ocorreram 25 suicídios em 2007, Dejours atribui o fato a exigências como avaliação individual de desempenho, qualidade total e ao "fazer mais com menos." Essas ferramentas da gestão moderna têm aniquilado as relações, pois a competição entre áreas e colegas é estimulada, abertamente. Prêmios e promoções para os "melhores" e descaso e ameaças para os "piores". As pessoas submetem-se a verdadeiras provas de resistência física e mental, entregando a suas alma em troca do salário e da participação no PPR.
Como mudar isso? Resgatando o diálogo, o ouvir e o interesse pelo outro.
               A saída é ser humano, assumir que a falta de solidariedade é um processo de abandono e que nós definhamos ao nos sentirmos assim.
              Líderes precisam (re) aprender sobre solidariedade para poderem estabelecer diálogos com equipes alegres e saudáveis, tendo o respeito às pessoas como valor principal!