O diálogo entre os dois casais inicia com uma completa aula de boas maneiras e traquejo social. Os anfitriões oferecem bolo, café e acolhimento. Entretanto, depois de algum tempo, a conversa vai degringolando de forma a transformar polidez em agressividade, expondo a fragilidade humana. De perto ninguém é normal, disse Caetano Veloso. Ao nos aproximarmos vemos que o amor e o ódio, a candura e a grossura, o grito e o silêncio, a ironia e a compreensão, o desejo e a indiferença fazem parte da mesma pessoa. Esses sentimentos estão disponíveis, esperando para serem utilizados. Somos hipócritas quando não acreditamos nisso, tentando disfarçar.
A descarga de raiva que um casal vai despejando sobre o outro e entre si, nos leva a refletir sobre onde estava guardado tudo aquilo. Quando nos descontrolamos e viramos perseguidores uns dos outros assumimos a nossa animalidade. Vem à tona toda a força que temos para destruir aquele que, a nosso ver, nos ataca. Por trás desse turbilhão de palavras e gestos malditos estão conversas interrompidas, mágoas guardadas, relações superficiais, medo de aprofundar-se, permitir a tristeza e dialogar.
A hipocrisia está aqui. Temos o defeito de querer o melhor para nós e o outro que se dane. Disfarçamos isso. Ser mau e egoísta não é algo a ser exposto. Assim, quando o bicho pega, toda essa maldade vem prá fora e salve-se quem puder. Acabamos desejando que morra e vá para o inferno aquele que há poucos minutos dissemos amar para toda é vida. Destruímos em segundos o que levamos anos para conquistar. Acontece que é preciso mudar isso, com urgência. O filme nos leva a refletir sobre a hipocrisia, o que já pode ser o ponto de partida para uma mudança. Chega de disfarce e de falta de maturidade e consciência.