24.7.12

IRRITADOS

                   "Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo". A composição é do Walter Franco, cantada pela Leila Pinheiro. O mantra serve para enfrentar pessoas irritadas e sem limite. Parece-me que a adolescência está beirando os 30 anos. A incapacidade para suportar uma frustração e espernear feito criança mimada toma conta de muitas lideranças jovens. A qualidade e a profundidade do trabalho, que deve ser feito para ontem, deixa a desejar.Um certo ar de arrogância acompanha o andar rápido de alguns nomeados como  "geração y". Eles desejam que tudo aconteça na hora exata, sempre na sua hora exata. Alguns estão com a Síndrome do Intestino Irritável, doença adquirida antes dos 30 anos, mais por mulheres.O intestino tem um sistema nervoso autônomo com milhões de neurônios circulando por ali. É um segundo cérebro. Uma bomba relógio. 
                       Bem, toda vez que você cruzar com esses irritados ambulantes ou tiver o azar de estar na sua equipe, clique aqui.

23.7.12

Diálogo? Nem pensar!

                              A criança parecia hipnotizada.O trânsito lento, malabaristas na sinaleira, um entardecer de chorar de tão lindo e ela grudada na TV, dentro do carro, no banco traseiro. Isso é muito avançado, tecnologicamente. Cena semelhante eu presenciei no restaurante. O carrinho com um porta-computador e o bebê grudado na tela enquanto os pais comiam, em silêncio. Bem, pensei que a TV fosse um modo de deixar o casal conversar. Que nada!
                          Lembro de sair para almoçar com meus três filhos pequenos. Levantar, embalar, comida fria, ninar, comida quente, muita conversa, palminhas, alguns livrinhos, brinquedos pequenos, tampinhas, garrafa plástica, chaveiro do carro, cadeirinha... tudo para distrair. As crianças sempre ficarão impacientes num almoço demorado. Agora, hipnotizá-las é o início de uma vida alienante. Não sei se mais tarde é esse pessoal que vai preferir ficar dentro do quarto, sob os protestos dos pais. Alienação é típico da nossa sociedade. Ficar triste é proibido, diálogo, nem pensar. 
                           Não sou favorável a TV no carro, no carrinho, no banheiro, no quarto, na cozinha. Acho que nesses lugares a gente deveria exercitar outras coisas.  Um bate papo com os filhos é artigo de luxo em muitas casas que praticam o diálogo na hora do comercial. Depois, volta o hipnotismo. Psiuu, vai começar a novela!

16.7.12

É XIMENES, COM X

                                   Os estereótipos que Woody Allan constrói no filme Para Roma com Amor foram escolhidos a dedo. Nessa semana eu mesma presenciei no aeroporto em São Paulo a tietagem de duas mulheres adultas insistindo com uma atriz para tirar fotos e dar um autógrafo. Como não estou por dentro do repertório global, fiquei boiando. A minha curiosidade, no entanto, me passou uma rasteira e logo fui perguntar para as fãs quem era a dita cuja: Mariana Ximenes, com "X". Por quanto tempo ela dará autógrafos só Deus sabe. O personagem que, da noite para o dia, fica famoso no filme de Woody Allan, interpretado por Roberto Benigni ( A Vida é Bela) é a representação máxima da mediocridade da imprensa que corre atrás dos famosos. A cada suspiro uma reportagem de duas páginas.
                                   Ficar famoso, aliás, é a esperança que muitos pais frustrados colocam em seus filhos. Ter um membro da família que seja reconhecido na rua é o sonho de consumo de muita gente. Para mim, que gritava e sapateava no cinema Guarani, em Porto Alegre, assistindo Help, dos Beatles, é na adolescência que a gente se apaixona pela fama dos outros. Depois dessa fase, a gente tem mais é que apoiar o anonimato e tirar do palco uma quantidade enorme de gente ( lideranças, colegas de trabalho, crianças adultas, pais infantis) que não têm nem mesmo condições de estar nos camarins.  

4.7.12

Férias com Respeito

                                          Juntei o agradável com o agradável e fui para Londres ver minha filha que está morando lá. Confesso que poucas vezes me sinto uma cidadã em Porto Alegre. Tenho a impressão que aqui só sabem que eu existo quando sou multada por falar no celular e dirigir, o que é justo, quando a minha operadora de celular quer me oferecer um plano melhor, toda a vez que alguém buzina para "avisar" que o sinal abriu ou por "ter a preferência" na hora de colocar uma mala dentro do táxi no aeroporto, quando o motorista está preso no seu assento. A prefeitura se lembra muito de mim para cobrar impostos. 
                                           Eu que sou de Porto Alegre fui recebida em Londres como uma pop star. 
Começa que as indicações servem mesmo para indicar. As ruas têm placa de sinalização e existem para a gente atravessar e todos param na faixa de segurança: motoristas, ciclistas e transeuntes formam um  triângulo amoroso perfeito.Os parques abrem às 7 horas e fecham às 21h. Ninguém tem o direito de dormir lá dentro, ninguém mesmo. As pessoas podem ver as flores florirem, os equipamentos estão abertos e lotados ( bares, restaurantes), os banheiros limpos e há responsáveis cuidando. Me senti privilegiada com tantos e bons tratos.Qualquer necessidade minha como uma cidadã que andou perambulando pelas ruas de Londres da manhã à noite foi atendida com dignidade. Na volta alguém comentou: "Não dá para comparar Londres com Porto Alegre". É verdade. Porto Alegre é demais!